terça-feira, 18 de março de 2014

Nunca se está preparado para perder um filho...nem durante a gravidez.

Li há dias que o futebolista Iniesta e a mulher tinham perdido o filho, aos 7 meses de gestação. E inevitavelmente lembrei-me do que se passou comigo.

Já lá vão uns anos... Eu estava no final da adolescência. E estava prestes a ser pai. Não foi uma gravidez planeada, obviamente (well, or not so obvious, uma vez que em tempos soube de um casal que teve um filho aos 18 anos propositadamente, mas isso são outros quinhentos). Não foi irresponsabilidade nem inconsciência, foi apenas um acidente - porque os acidentes acontecem realmente. Eu e a Carolina, minha namorada da altura, decidimos ter o filho, apoiados pelas nossas famílias (que inicialmente tiveram um choque, como é normal, mas que sempre nos apoiaram). A gravidez foi decorrendo sem incidências, sem problemas, sem complicações... Pelo que nada levava a crer o que aconteceu: um aborto espontâneo aos 6 meses.

Já é complicado o suficiente assimilar um aborto espontâneo seja em que altura for, mas depois de estarem cumpridos dois terços do período de gestação ainda pior. Normalmente as complicações acontecem até ao terceiro mês! Foi muito complicado assimilar tudo isso... Eu sou daqueles que defende que a partir do primeiro dia de gestação já estamos perante um ser vivo, um ser humano. Mas aos 6 meses... Aos 6 meses já se sabe o sexo (era um rapaz), já há um nome (seria Tomás), já há movimentos na barriga da mãe, já há roupas compradas (e outros bens necessários). Ninguém espera perder um filho a caminho do último trimestre de gravidez!

Não foram tempos nada fáceis. Essa perda deixou marcas profundas, quer a mim quer à mãe do meu filho. Ambos encarámos isto da mesma forma: tínhamos acabado de perder um filho. Um filho que nunca chegou a nascer, é certo. No qual nunca pegámos, nunca lhe conhecemos as feições, nunca mimámos, nunca mudámos a fralda, nunca ouvimos o choro, nunca vimos um sorriso. Mas era um filho. Fruto de um sentimento que existia naquela altura, fruto dos nossos genes. Um filho que não foi planeado, mas que foi amado desde o primeiro dia. E a quem nos foi tirada a possibilidade de lhe transmitir todo esse amor.

Esta perda ocorreu em 2005. Mas nunca foi esquecida. Nunca será esquecida. O Tomás será sempre o meu primeiro filho. Porque mesmo sem nunca lhe ter pegado, foi por ele que senti pela primeira (e até hoje, única) vez aquele amor incondicional que um pai sente por um filho. E ter lido o que aconteceu ao Iniesta fez-me recordar novamente tudo aquilo por que passei...

Mas não foi só por isso que escrevi isto hoje... Amanhã comemora-se o Dia do Pai... E todos os anos, neste dia, o meu pensamento fixa-se no filho que perdi. Ano após ano, penso como seria se ele cá estivesse, provavelmente a trazer-me uma prenda feita na escola. Mas este ano fica marcado por outra coisa... O pai da Carolina, portanto o pai da mãe do meu filho, portanto teria sido o avô do meu filho, está a passar por uma situação complicada de saúde. Soube disso no domingo e senti-me como se fosse um familiar próximo. Porque apesar da minha relação com a Carolina não ter resultado (mas ficámos amigos - e para mim nem poderia ser de outra forma, dado o que passámos), o pai dela continua a ser uma pessoa por quem tenho uma grande estima. Sempre me tratou muitíssimo bem e tenho-lhe imenso respeito. Por isso lhe desejo muita força e rápidas melhoras. E um forte abraço de coragem a toda a família. Eu e a Carolina não demos certo, mas a sua família seria a família do meu filho e disso nunca me esquecerei.

14 comentários:

  1. Roger, e assim deixas uma miúda com a lágrima no canto do olho logo de manhã...não fazia a menor ideia (não sei se alguma vez tinhas escrito aqui sobre este assunto). Um beijinho grande e, também por este texto, parabéns pela pessoa que és.

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    1. Sim, já tinha escrito aqui sobre isto (basta seguir a tag :P). Mas no antigo blog já tinha escrito mais sobre o assunto.
      Obrigado CM'zinha.
      Beijinho

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  2. Tenho a certeza que serás um bom pai!! :)

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    1. Espero que sim, Neverzinha. Ser pai é o meu maior sonho e espero um dia estar à altura do acontecimento :)

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  3. Até me arrepiei ao ler isto...
    Há pessoas na blogosfera que andam a ver se me puxam pela lágrima... (às vezes conseguem... shiuuu....)!

    Não sei muito bem o que te dizer, mas "é de homem" este post!!

    Aquele abraço!

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    1. Obrigado meu caro.
      Foi a situação mais marcante da minha vida, sem dúvida alguma.
      Grande abraço

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  4. Mauuuuu!!!! Isto não se faz à tua "mummy" da blogo. Já há muito desisti de tentar perceber como é que neste mundo em que ninguém se conhece, o nosso, bom pelo menos o meu, coração decide de quem gosta, em quem não vale a pena apostar e por aí fora...O meu coração decidiu que gostava de ti, sempre te achei um miúdo um bocado fora "da norma" sensível, diferente. Hoje deste-me um soco na boca do estômago...não consigo imaginar o tamanho da dor...e agora vieram-me à memória os teus posts sobre ser pai...que fazem ainda mais sentido....
    Hoje só posso abraçar-te apertado, espetar-te um beijo rechunchudo nas bochechas e dizer-te...que cada vez gosto mais de ti. E olha bem para mim: Vais ser um PAI 5*, não tenho a mais pequena dúvida disso. Tens uma estrela no céu a iluminar o teu caminho.
    (O meu pai...chama-se Tomás...a minha mais novinha chama-se....vê se adivinhas...e tem a mania de planear tudo...já me informou, que o meu primeiro neto se chamará...Tomás...nome que eu amo....)
    E agora toca a ir para a casa de banho retocar a maquilhagem que fizeste o favor de me estragar......aiiiiiiii.....

    Jinhooooooossssssss

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    1. Surizinha, tu é que me deixas de lágrimas nos olhos pá, olha que tenho uma reputação a manter :$ ahahah :P

      Não sei se sou, como dizes, "fora da norma". Mas sei que sou alguém que valoriza, acima de tudo, os sentimentos. Tal como dizes, também o meu coração decide de quem gosta e em quem não vale a pena apostar. E sempre falei com o coração. Não sei se isso se reflecte aqui na blogosfera mas espero sinceramente que sim, porque isto é o reflexo do que sou.

      Sim, o tamanho da dor é inexplicável... É daquelas coisas que não desejo a ninguém MESMO. Perder um filho não devia acontecer nunca... É uma dor maior que tudo o resto. E se eu sempre quis muito ser pai, depois desta acontecimento esse desejo ficou ainda maior... Porque agora tenho amor a dobrar para transmitir. Espero muito vir a ser um bom pai. Não conseguir é um dos meus maiores medos. Mas garantidamente serei um pai que tentará ser o melhor todos os dias.

      Obrigado, do coração, pelas tuas palavras, pelo abraço, pelo beijo, pelo conforto. O meu coração também gosta de ti, Mummy :)

      (A tua mais novinha teve bom gosto no nome, sem dúvida :))

      Beijinho grande, e obrigado mais uma vez :)

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  5. Sensibilizaste-me com a tua história de vida ... há cada experiência ! Um dia hás-de ser pai e saber , através do cuidar , do educar ,o que é um amor incondicional. Vais ser um bom pai, tenho a certeza!:)

    Bjsss

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    1. Ser pai é o meu maior sonho, o meu maior desejo. Quero ser o melhor pai do mundo, sem dúvida que quero :)
      Obrigado pelas tuas palavras :)
      Beijinho

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  6. Não fazia ideia que tinhas passado por essa situação. Acredito que não tenha sido nada fácil, principalmente nestes dias nomeados em que nos lembramos sempre das pessoas mais importantes das nossas vidas.
    beijinho, força

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    1. Foi a situação mais dolorosa da minha vida, sem sombra de dúvida. Foi um sofrimento gigante, que deixou marcas para sempre. E o Tomás nunca será esquecido, porque tal como disse no post, apesar de nunca o ter tido nos braços, foi por ele que senti pela primeira (e até hoje única) vez aquele amor incondicional de pai para filho. E isso não se esquece nunca, é um amor avassalador que começa logo quando a criança está na barriga da mãe...

      Obrigado!
      Beijinho

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