sábado, 19 de abril de 2014

Friendzone: verdade ou mito?

Imagem retirada do Shiuuu
Been there, done that.
E não consigo evitar um sorriso quando leio este tipo de coisas (e no Shiuuu acontece com alguma frequência). Porque vejo nos outros o mesmo medo que senti quando isso me aconteceu. As mesmas inseguranças, os mesmos pensamentos, os mesmos sentimentos. Porque quando se tem uma amizade tão especial, é quase impossível não pensar que se vai estragar tudo.

Isto aconteceu-me em 2007. Já conhecia a rapariga em questão há mais de um ano, ela era colega de turma de uma ex-namorada minha e mesmo antes de a conhecer já tinha ouvido falar muito dela (e ela de mim). Conhecemo-nos por acaso, através da música. E logo ali houve uma empatia muito grande. Rapidamente passámos de conhecidos a amigos, e de amigos a melhores amigos. Éramos a versão do outro no sexo oposto. Falávamos sobre tudo, sem filtros. E criou-se de facto uma enorme ligação. Poucos meses depois de nos conhecermos, já não conseguíamos passar um dia sem falar com o outro. Isso levava a que, muitas vezes, levássemos com algumas bocas, do género "já vi muita coisa começar por menos". Mas naquela altura, aquilo não nos fazia sentido. Tínhamos uma ligação muito especial (e incrivelmente telepática), mas só víamos uma enorme amizade e cumplicidade. Para além disso, éramos ambos comprometidos já há algum tempo (no caso dela, há bastante tempo - 3 ou 4 anos).

Quis o destino que as nossas relações começassem a desmoronar. Primeiro a minha, depois a dela. E eu dei por mim apaixonado (ainda ela namorava). E aí vieram os mesmos receios que, volta e meia, vejo nos que escrevem para o Shiuuu. Vi-me completamente perdido, completamente à toa. Não sabia o que havia de fazer. Pensava em afastar-me, mas depois não conseguia. Porque ela me era importante, porque eu não queria estragar aquela amizade tão única, porque quando começaram a surgir problemas na relação dela eu não conseguia virar-lhe as costas e negar-lhe um ombro. No início, ainda tentei desvalorizar o que sentia. Julgava que estava a confundir tudo, que possivelmente apenas me sentia carente. Mas o sentimento aumentava de dia para dia.

Um dia, numa conversa banal, não sei como a conversa acabou por resvalar para outros campos e ela disse-me algo como "não me digas que é uma rapariga que te deixa assim", ou algo do género. Ora eu, que não tenho jeitinho NENHUM para mentir, fiquei sem saber como descalçar aquela bota. Comecei a gaguejar, a querer mudar de assunto. Mas ela percebeu. E não me largou o resto do dia, até saber. À noite, venceu-me "pelo cansaço": eu não estava a conseguir disfarçar, ela não parava de insistir e eu desbobinei. E foi quando enviei aquela mensagem: "há meses que tenho uma panca por ti". Todo eu tremia. Só pensava "mas que merda fui eu fazer?!". A resposta não tardou. "Sinto por ti o mesmo que sentes por mim". Eu era correspondido! O sentimento era recíproco! E os medos também, daí ela também nunca ter avançado antes. Tinha medo de estragar tudo, tinha medo que eu não sentisse o mesmo. Esse dia foi o início de uma história de mais de 2 anos.

Por isso é que quando leio este tipo de segredos no Shiuuu, digo sempre o mesmo: arrisquem. Quando duas pessoas desenvolvem uma ligação tão especial, uma cumplicidade tão grande, uma química tão forte, é provável que o sentimento seja muito maior que uma simples amizade. A chamada "friendzone" às vezes só existe na nossa cabeça. Sim, podemos não ser correspondidos, e aí inevitavelmente a amizade vai ressentir-se porque vai ficar um clima estranho. Mas também podemos ser correspondidos! "If you never try, you'll never know". Eu sei que não é fácil "ter tomates" para avançar, eu também não os tive e só avancei quando me senti pressionado a fazê-lo (e a miúda era persistente, eu sei que se eu não tivesse dito nada naquele dia, no dia seguinte ela ia continuar a insistir). Eu sei que nem todas as histórias deste género se desenvolvem como a minha. Mas se nos sentimos bem com aquela pessoa, se há uma ligação tão forte, então porque não tentarmos agarrar a nossa felicidade? O meu caso é a prova que sim, é possível que dois melhores amigos se apaixonem mutuamente e que namorem. E quando isso acontece, é uma relação brutal. Porque há um conhecimento enorme acerca do outro, porque há uma base muito forte na relação (uma amizade cimentada), e porque quando o sentimento cresce para amor temos a certeza absoluta do que sentimos e NUNCA pomos em causa que pode ser apenas uma paixoneta: há a plena certeza do que se sente.

Depois, claro, tem o outro lado da moeda. Se aquela relação acaba, "o que foi não volta a ser", como dizem os Xutos. Ou seja, aquela amizade única vai ressentir-se brutalmente, vai perder-se aquela cumplicidade. Pior que isso, só mesmo a relação acabar mal. Então aí é para esquecer: os ressentimentos, rancores, raivinhas e sentimentos afins acabam por ser muito mais fortes do que o amor, a amizade, o respeito, o carinho, a admiração. E para além de se perder o amor, perde-se também a amizade. Foi o que me aconteceu.

Mas tal como disse há uns posts atrás, "quando olho para trás, tudo valeu a pena". E é mesmo isso que eu sinto. Apesar das coisas terem acabado mal, apesar de já não falar com essa rapariga há 4 anos, apesar de se ter perdido TUDO... Apesar de tudo isso, se voltasse atrás, voltaria a fazer tudo de novo. Porque durante aquele tempo valeu a pena, porque durante aquele tempo eu fui feliz, porque foi naquela altura que descobri o amor pela primeira vez. E como por vezes eu costumo dizer, "se fui feliz, valeu a pena". Por isso, a todos/as aqueles/as que se sentem apaixonados/as pelos/as seus/suas melhores amigos/as, take a chance ;)

10 comentários:

  1. Não vejo nada demais nesse tipo de sentimento. Mais estranho e difícil de conciliar, era apaixonarmo-nos pela nossa maior inimiga.
    A questão da relação acabar com tudo é uma hipótese, mas não deixamos o comboio passar ao lado só porque ele pode descarrilar mais à frente.
    E viver uma amizade com uma paixão ou um amor recalcado, não é bem menos "saudável"?

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    1. Compreendo o que queres dizer. Mas também depende do que valorizas mais. No meu caso, eu valorizo a amizade acima de tudo. Se ela não tivesse "apertado" comigo, não sei se alguma vez teria coragem de lhe dizer que estava apaixonado.

      Hoje em dia, aconselho as pessoas a arriscar. Porque sei que é possível. Mas naquela altura também eu acreditava que era quase impossível sair da friendzone. Mas nesta vida andamos sempre a aprender, meu caro :P

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  2. :)))
    Posso-te dizer que me casei com o meu melhor amigo, literalmente...e nenhum de nos quis estragar isso na altura e demoramos meses até perceber que já não era amizade!
    Boa Páscoa!!!

    http://saladosilenciocorderosa.blogspot.pt

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    1. Pois, foi isso que me aconteceu: nenhum quis estragar e demorámos meses até admitir, quer perante nós próprios quer perante o outros (e os outros também). Mas não acabou em casamento :P

      A tua história também demonstra que não é impossível nem tão pouco improvável que estas coisas aconteçam :)

      Beijinho, boa Páscoa!

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  3. :) Eu quando vejo este tipo de post dá-me um misto de sentimentos. Eu só Amo os meus amigos... normalmente, os meus melhores amigos. Mas uma coisa é certo, o arriscar tem de estar adjacente. Como são meus amigos... acabamos por lidar muito bem com esta questão. Já estive nas duas posições e sempre resolvi tudo bem. Se resultaram em grandes histórias de Amor? Não. Mas continuam grandes histórias de Amizade. ;) Beijinhos

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    1. Ao menos as amizades não saíram beliscadas, isso é de saudar :)
      Beijinho

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  4. Aconteceu algo parecido comigo. Não éramos os melhores amigos, mas havia uma certa cumplicidade e era uma pessoa com quem falava de tudo, mesmo. Nunca faltava tema de conversa. Arrisquei, não era correspondida, mas não me arrependo de ter tentado. Por um lado porque fiquei mais aliviada, deitei para fora o que sentia e pelo menos fiquei a saber com o que podia contar. Por outro porque para mim é tão difícil demonstrar os meus sentimentos que tê-lo feito foi uma vitória pessoal. Claro que deixámos de ter o mesmo à vontade, mas continuamos a falar e continua a haver sempre tema de conversa.
    beijinho

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    1. É isso, acho que depois se perde o à vontade. Porque quem está apaixonado tem um sentimento mais forte e não consegue desligar-se disso, e quem não corresponde sente-se algo constrangido e tem medo de magoar. Mas acho que se deve arriscar, porque se não arriscarmos nunca saberemos né? :)
      Beijinho

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  5. Agora é a minha vez de dizer been there done that!!
    E quando acabou, também acabou tudo..!

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    1. A meu ver, esse é o grande problema de namorar com o/a melhor amigo/a. Enquanto dura, normalmente é perfeito (porque o conhecimento mútuo já existe, porque a cumplicidade já lá está, etc). Mas quando acaba, torna-se mais doloroso precisamente porque se perde uma enorme amizade :/

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