quinta-feira, 23 de abril de 2015

Um dia daqueles #1

Texto escrito a 30 de Junho de 2012, que me apeteceu partilhar no blog

3h10 da manhã… E o sono que não vem nem à lei da bala…

Pego no ipod… Talvez ouvir música me relaxe, como é habitual… Procuro nos sons a tranquilidade que preciso para que o sono venha até mim… Estupidamente ou não, estou um completo turbilhão de emoções que nem sei bem exprimir. A minha mão mexe freneticamente no ipod ao mesmo ritmo que o meu coração bate… Não consigo ouvir uma única música, não me apetece ouvir nada. Não encontro, ou finjo que não encontro, uma música que me apeteça ouvir, uma música que me consiga relaxar…

Mas que raio se passa comigo? Desde quando é que a música não me acalma?

Levanto-me. Vou para a sala e ligo o pc. Escrever. É isso que me faz falta para acalmar… Uma página Word em branco… Engulo em seco, os dedos não se mexem. Bebo um gole de água. Digito a primeira frase. Volto a engolir em seco. Volto a beber água. Mas será que nem hoje as palavras saem? Apetece-me escrever, que raio! Aliás, em abono da verdade, não me apetece propriamente… Mas sinto que preciso de o fazer, sinto que preciso de libertar o que me incomoda… Mas as palavras não saem. Estavam encravadas na garganta e foram goela abaixo com a água que bebi. E agora não consigo arrancá-las. Peço forças para que os dedos não deixem de responder aos comandos do cérebro. Levanto-me e preparo um Baileys com três pedras de gelo. Pode ser que um bocadinho de álcool me anestesie e depois me faça cair na cama ferrado. Volto a sentar-me em frente ao pc.

Revejo mentalmente o meu dia. E racionalizo que realmente tive um dia de merda. Que começou com uma noite agitada, em que o meu subconsciente resolveu pregar-me partidas e me trouxe aos sonhos aquilo que me causa mais dor. O despertador sobressaltou-me e despertou-me destes sonhos. Se é verdade que me causam dor, não é menos verdade que momentaneamente me confortam. Ao menos em sonhos sinto a presença de quem me faz mais falta. Mas sempre que isto acontece, acordo invariavelmente com o coração apertado. Pego no telemóvel, ansiando um conforto que me fizesse sorrir ao acordar e que me afastasse estes pensamentos. Estranhamente, nada. “Será que hoje me sai tudo ao contrário?”, pensei. Provavelmente saiu à pressa e não conseguiu mandar mensagem, repetia para mim próprio, numa tentativa vã de levantar a cabeça e começar o dia na mó de cima. Ainda ensonado e rabugento com este começo de dia, tudo me irrita. Até o raio da roupa, que nem sabia o que havia de vestir. “Precisas de um banho, para aclarar as ideias”, digo para mim próprio. Ainda meio aos tropeções, encaminho-me para o meu destino.

Perdi noção do tempo que estive debaixo do chuveiro. Levanto-me sempre com tempo de me despachar nas calmas, mas os meus banhos costumam ser rápidos. Hoje não. Fiz um esforço para não pensar em nada e simplesmente deixar a água escorrer corpo abaixo. Pelo meio, umas lágrimas teimosas caíram também. “Hoje não é dia para deprimir, é um dia especial”, convencia-me a mim próprio. E o duche lavou-me também a alma. Devia desfazer a barba, já está considerável. Mas hoje não me apetece. E sinto-me melhor com barba, mais confiante. E hoje preciso de me sentir confiante. Hoje quero sentir-me no topo do mundo, quero sentir-me indestrutível. Porque hoje é um dia bom, especial. Saio de casa já com um sorriso na cara.

Continua

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